O pão que mais ninguém quer

Ainda antes de o pão
Ficar duro, bem duro,
Deita-se no entulho
Ou dá-se ao cão…

Nem para uma sopa de leite,
Ou uma açorda,
Ou um casamento com azeite,
Ou uma tosta gorda…

Já não se tem escrúpulos
De deixar o pão estragar…
Antes o tragar,
Duro e escuro,
Do que voltar a comprar!

Deitei pão fora,
Apesar de ter dentes.
Como as crianças inocentes,
Cri que era pecado
Atirar o pão fora
Mesmo que fosse só um bocado.

Quando pobre,
Adorava comer pão
Como um acepipe
E ia p’rá cama como um príncipe
Que nunca passara fome.

Ainda como muito pão
E descobri
Que o pão mirrado é do mesmo grão
E compreendi

Que o pão de hambúrguer e de pizza
Não é o meu pão.
Também o pão estaladiço
Feito para magriço
Não é o meu pão!

O meu pão
É o pão que se deita fora
Ou que dá-se ao cão.
Inda muito antes da hora

O pão é saboroso,
Porque come-se devagar
Para desfrutar do paladar
Dum alimento tão salutar e generoso!

© by Marco Branco

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